A acuidade perceptiva é nosso radar humano para enxergar em meio a neblina da incerteza o modo de agir antes dos outros. Poucos líderes desempenharam a acuidade perceptiva, porque ela não faz parte do desenvolvimento diário da liderança. Os líderes olham o mundo de dentro para fora, através de uma pequena abertura, procurando aquilo que corresponde ao que eles sabem. Só uma porcentagem muito pequena olha para seus negócios de fora para dentro, procurando no horizonte sinais de mudança.

Um dos primeiros sinais é o surgimento de um catalisador, isto é, um indivíduo com acuidade perceptiva excepcional que se vale de uma determinada força ou uma combinação de forças – por exemplo, a relação entre uma tendência demográfica e uma tecnologia existente. De modo geral, é um pensador criativo, que não se limita ao pensamento convencional. Ele pondera suas percepções em comparação com a visão das pessoas de sua rede social, avalia hipóteses – quase sempre de maneira inconsciente – e fica empolgado com a possibilidade de novas oportunidades. O mais importante: ele age. Os catalisadores assuem riscos baseando-se parte em fatos, parte em suposições referentes ao que pode acontecer quando as forças se unem no que outros chamam de convergência. O catalisador aliás, é o indivíduo que geralmente cria a convergência.

De novo: a acuidade perceptiva é uma habilidade de liderança fundamental, e a capacidade de enxergar eventos, tendências e anomalias no horizonte – qualquer coisa nova em comparação com o que sabemos, por mais fraco que seja o sinal – é uma qualidade da prática de liderança.

Ele vê o óbvio antes de todo mundo, enxerga o que não enxergamos. Depois, o que ele vê se torna óbvio para todos. ”

Os eventos ou novas tecnologias percebidas por um catalisador são o que chamo de sementes. As sementes ficam inativas por um longo período, até um catalisador vir e fazer alguma coisa com elas – cultivá-las, por assim dizer. Nesse momento, as sementes germinam. Por exemplo, uma patente pode ser uma semente, mas possuir um grande número de patentes não gera nenhum impacto. É necessário que um catalisador determine como aquela patente pode ser utilizada de maneira inovadora de modo a encontrar mercado. Ai, mudam as placas tectônicas: uma mudança estrutural de suma importância para o negócio ocorre, redefinindo a forma de ganhar dinheiro, demolindo modelos de negócios e reorganizando grande parte dos protagonistas de setor (ou destruindo-os).

Embora a acuidade perceptiva seja um talento nato para alguns, você pode cultivá-la observando esses indivíduos e adotando a rotina e a prática disciplinada de procurar novas ideias, eventos, tecnologias ou tendências – coisas que uma pessoa imaginativa poderia combinar para atender a uma necessidade não atendida ou criar uma necessidade totalmente nova. Isso também aumentará sua capacidade de enxergar o desenvolvimento de tendências antes dos outros.

O maior teste de acuidade perceptiva é a capacidade de reconhecer catalisadores e sementes mesmo com sinal fraco (intermitente ou aparentemente irrelevante). Varejistas sem acuidade perceptiva, por exemplo, talvez tenham subestimado a importância da nomeação de Angela Arendts para o cargo de vice-presidente de varejo e lojas online da Apple no início de 2014. Que loucura é essa (eles podem ter se perguntado) de contratar a bem-sucedida CEO da Burberry uma das melhores marcas do mundo, para gerenciar uma mera divisão que nem é a mais lucrativa da Apple?  

O indivíduo dotado de acuidade perceptiva iria logo questionar: Por que uma executiva tão criativa e experiente abriria mão do cargo de CEO para pegar um trabalho menor? Será que ela é um catalisador capaz de reconceituar totalmente o trabalho das lojas?

Muitos catalisadores levam um tempo para se desenvolver, mas mostram suas qualidades logo no início (e geralmente repetem seu desempenho). Vale a pena, portanto, procurar pessoas que estão começando a aparecer ou já tem um histórico: o crítico, o aluno de pós-graduação que gera controvérsia entre os “especialistas”, o pesquisador que surge com uma inovação técnica ou o jovem empreendedor que desponta para o sucessor.